Um vasto e único dia burguês

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O transporte liga dois pontos por algumas horas. Devido ao encolhimento do planeta, decorrente de uma superabundância espacial do presente, linhas são construídas para viabilizar o acesso a esses pontos. No entrecruzamento virtualmente infinito dos destinos as referências se multiplicam por entre as janelas. Meios de transporte tornam-se lugares habitados a partir de uma configuração instantânea de posições, em meio a passagens provisórias e efêmeras. Cada corpo ocupa o seu lugar num mundo prometido à individualidade, perpassa(n)do pela paisagem-texto. Passar. Não parar. Palimpsestos espaço-temporais em que constantemente se reinscreve o jogo da identidade e da relação. A sociedade inorgânica é uma abundância de vazios densamente povoada por tensões solitárias.P1010841

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Texto e fotos por Henrique Rodrigues, originalmente publicados no zine Até o Centro edição especial

Cada um na sua ilegalidade

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Crick, Arco, Sed e… Fábio Zói

Postando essa foto lembrei de uma vez, na última eleição, que estava avacalhando os pôsteres (ilegais) dos candidatos da vez na Antônio Carlos com meu chegado Quinto, metendo tinta no rosto dos figuras, e parou um sujeitinho num Marea e veio questionar agressivamente por que a gente tava fazendo aquilo. Falamos que não concordávamos nem com o sistema político representativo nem com a publicidade nociva dos cartazes e íamos desembolando a idéia quando o cara veio dizer que fazia parte da campanha do Fábio Zói e abriu o porta-malas lotado de cartazes e santinhos pra gente ver. O grande argumento do cara pra gente não zuar os cartazes do Fábio Zói (mas continuar zuando os outros, claro) era de que o cara era da favela, “é humilde, cara” e que ele não atropelava grafite de ninguém. Depois sugeriu, com um jeitinho matreiro que era “bom ficar esperto, cara. Tem muito capanga de candidato que anda armado aí, se ver vocês fazendo isso pode ficar ruim pro seu lado“.

O Fábio Zói não… o Fábio Zói é da favela… esse faz! (…)

Como se…

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Caminho em ruínas de um tempo que ainda não passou. Tudo em volta se desfazendo tão rápido quanto quando formado. O concreto se rompendo no aço, poeira no ar. Fragmentos transformados em morros aplainados para passarmos. Passamos por cima e isso basta. Como se bastasse!

Ruínas de vida para abrir o caminho. Memórias que se escondem em lugares que não vemos, em pessoas que não percebemos, porque passamos, num passo de tempo apressado. Sentimos e ouvimos notícias de outros ontens, resquícios do que havia. Tudo que víamos agora não é mais, é outra coisa, e não estranhamos. Como se não fôssemos estranhos!

Caminhamos mais rápidos do que nossos passos, que já não cabem no tempo para transpor o caminho. Somos tantos e estamos em tantos lugares que nossos corpos se encontram em si mesmos e em outros apenas quando convêm. Definimos nosso tempo pelo que foi definido por outro, alguém indefinido. E todo o espaço que ocupamos parece obedecer, como se não parássemos!

As memórias dos que pararam, dos que antes ficaram, não são concretas, então, como se não existissem, viram passado. Embaixo do caminho, não vemos, não sentimos, não estranhamos. Dentro da nossa definição, talvez seja isso que buscamos. Como se não passássemos!

Pra Antônio Carlos,
luminosa linha eterna
(não mais) cercada de árvores.

Foto e texto por Marina Teixeira

DSCF1976Arieth, Rupestres Crew – foto por Marina Teixeira

Fibra

Snexs, Seda, Cossi_pixo_Figo_bomb_Antônio CarlosNa cena nomes de Snexs, Seda, Cossi e JK nos pixos e Figo no bomb.

páginas amarelas

Surto, Bagio, SVC, Gud, Testa, Amigo, Quinto, Mar, Lax_bomb_Antônio Carlos

quem lembra dessa parede?

Enfim, o resultado!

Depois de três dias de oficina, em que cada participante seguiu seu rumo e se embrenhou como preferiu na avenida (o que postei aqui anteriormente foi só a parte que eu estava presente), chegou a hora de diagramar o material produzido num período mínimo de tempo (a oficina terminou na quarta a tarde e o fanzine deveria ser lançado na sexta a tarde, no encerramento do evento!). Contei com a ajuda fundamental da Clarice Lacerda (a.k.a. Clacla) que virou a madrugada junto comigo e diagramou, diagramou até não funcionar mais de tanto cansaço. Mas valeu a pena a correria! 200 exemplares da edição especial do zine estavam impressos na sexta a tarde como combinado, e o resultado foi excelente! O fanzine foi muito bem recebido pelo pessoal do evento e pelas outras pessoas que conseguiram um exemplar. Não foi por menos, os participantes da oficina se envolveram com a idéia e com as ruas e produziram um material com conteúdo!

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200 fanzines é muito mas não é o bastante. Infelizmente não dá pra distribuir pra todo mundo. Por isso estou disponibilizando uma versão digital dessa edição especial, em formato PDF. O arquivo ficou meio grande mas com fé no são download e na santa banda larga ele chega aí! Para baixar é só clicar aqui ou na capa do zine aí em cima.

Minha gratidão e parabéns para o Cherén, Marcinho, Henrique, Álida, André, Bruno, Gustavo, Marina, Suellen, Aline e Melissa – os oficineiros que se jogaram na proposta e produziram um material de primeira! Agradeço ainda à Mônica, à Juliana e ao Joel pela participação. Por fim, minha gratidão profunda pela ajuda da Clacla e do Thales e pelo convite do pessoal do PET – Ciências Sociais. Valeu demais!

Oficina Até o Centro – 3º dia

O terceiro dia de oficina começou com chuva, o que quase frustrou as intervenções que tínhamos planejado de véspera. O Bruno tinha proposto uma pintura com silhuetas que fotografamos no primeiro dia e eu, Bruno e Cherém ficamos um tempo considerável na função de preparar o material pra esse trabalho. Depois de tudo pronto nós pegamos o ônibus junto com as meninas Marina, Aline e Suellen e descemos na hora que achamos um muro bom – as meninas seguiram viajem com alguns stencils e sprays nas mochilas.

O muro que escolhemos ficava num lote barrento em demolição. Lá no fundo, perto de onde a gente ficou tinha uma fossa sanitária bem fedorenta de onde pipocavam uma porrada de bichinhos pretos que infestaram nossas roupas logo que chegamos. Como a gente não sabia do que se tratava começamos nossa pintura e ignoramos os insetinhos. Não demoramos muito na pintura, mas foi tempo suficiente para os tais bichinhos tomarem conta de nosso corpos totalmente. Toda hora a gente se sacudia um pouco e ajudava uns aos outros dando tapinhas pra limpar os bichos. Levantamos hipóteses: carrapatos, pernilongos, mosquitos… era um pouco pior, a gente tava infestado de pulgas!

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DSC00602pulgas em todo canto!!!

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Depois de nos limpar como podíamos seguimos em frente para continuar aplicando as máscaras com as silhuetas. Logo a frente vimos as meninas do outro lado da avenida mandando os stencils que elas fizeram e um pouco adiante encontramos um outro bom muro para continuar o trabalho – sem pulgas dessa vez! O lugar era incrível! Ficava logo atrás desse viaduto temporário de andaimes que você pode ver no cabeçalho do blog aí em cima, num pedaço super intenso da obra. No meio do trânsito frenético de carros, trabalhadores, vigas, cidadãos, nós ocupamos mais um pedacinho de cidade com nossas pinturas. Aos poucos foram chegando mais gente e nós fomos explorando as ruínas em volta. É difícil não ficar encantado com as ruínas. De repente aquele monte de cômodos livres, cenários incríveis, espaços a explorar, lugares pra subir, novos patamares, novos pontos de vista da avenida! O pessoal se jogou totalmente!

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Voltamos pra casa mais uma vez com a sensação de missão cumprida e com as relações com a rua renovadas. Tínhamos vivido novas experências, transformado as perspectivas, experimentado outra avenida. Faltava apenas o último passo: produzir o fanzine!

[fazem cinco dias que eu coço como um louco, desde então]

Oficina Até o Centro – dia 2

No segundo dia, finalmente, a oficina saiu a campo. Pegamos um ônibus que faz retorno no centro, fomos até o centro literalmente, voltamos pela mesma Antônio Carlos e as pessoas foram descendo na avenida de acordo com o que pretendiam explorar daquele espaço. O meu grupo desceu no edifício IAPI, por sugestão do Márcio, e eu finalmente conheci esse conjunto habitacional da década de 50 (que dizem ser uma obra renegada de Oscar Niemeyer).

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Acho até engraçado pensar que passei tantos anos nessa avenida, estou há mais de um ano nessa investigação da Antônio Carlos e nunca tinha entrado no IAPI. O que eu vi foi totalmente diferente do que eu imaginava de lá. A impressão que tive, reforçada pelas falas dos próprios moradores, foi de que aquele lugar era uma cidade do interior no meio da cidade grande. O clima lá dentro foge totalmente do clima caótico da avenida em obras, apinhada de automóveis, barulho e gente, há alguns metros. Tudo mais tranquilo e silencioso por lá. A comunidade, pelo que tivemos notícia, é unida e representada por uma associação de moradores bastante ativa. Existe a vontade entre os moradores de cercamento do conjunto como um condomínio particular, o que não ocorre, segundo um morador, por causa da escola pública que existe lá dentro. Cercado ou não o IAPI parece protegido do caos urbano, de qualquer forma. Fizemos alguns áudios com os moradores, em breve posto eles por aqui.

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SDC15197Grafite do Trampo, de Porto Alegre, no IAPI.

Por fim nos reunimos no fim do dia num boteco perto da UFMG para trocar as experências entre nós. Foi bem interessante ver o relato de cada um e ver como surgiam diferentes pontos de vista e diferentes histórias sobre a avenida. Começaram a surgir as idéias para a publicação e a se esboçarem os primeiros recortes temáticos. Planejamos algumas intervenções para o dia seguinte e ficamos na torcida para a chuva não atrapalhar nossos planos.

Oficina Até o Centro – 1º dia

No primeiro dia de oficina nos reunimos numa sala da Fafich e apresentamos para os oficineiros a proposta e algumas experiências relacionadas com a avenida para ventilar as idéias. Infelizmente, por falta de tempo, não conseguimos fazer o percurso da avenida de ônibus até o centro, como tinha sido planejado, mas tá valendo. Contamos com a presença do Joel, taxista dono de um acervo de fotos muito interessante da Antônio Carlos, da Juliana Gouthier, professora de Escola de Belas Artes, responsável por sepultar com cruzinhas de pau as árvores cortadas na Antônio Carlos durante as obras de duplicação (intervenção que você pode conferir em fotos aqui ou no vídeo abaixo), e ainda da professora da Faculdade de Educação Mônica Meyer, que colocou algumas questões interessantes sobre o histórico da avenida, sua função social e os desdobramentos futuros de suas modificações.

Escutamos muitas histórias  da avenida e da cidade levadas pelo tempo, principalmente nas falas do Joel, que soube situar bem os contextos históricos dos momentos importantes para a Antônio Carlos e lembrou de fatos bem curiosos (como por exemplo o que segundo ele foi a primeira desapropriação da Antônio Carlos – um posto de gasolina na Lagoinha -, para a construção, no seu lugar, de uma pracinha, do mesmo tamanho). Na sequência tive a oportunidade de mostrar para o pessoal algumas das intervenções feitas ao longo desse processo de pesquisa que o zine AC iniciou, como a ocupação coletiva de uma casa em demolição e o painel “Pedra e tanque são mais que notícias”. A idéia era estimular um olhar menos passivo sobre o nosso tema – a avenida – e priorizar o processo, enquanto vivência e troca direta com a rua, em oposição ao mero resultado final.

Em conclusão, se não conseguimos sair a campo hoje, como era previsto, pelo menos tivemos a oportunidade de trocar bastante informações e levantar questões e aspectos da Antônio Carlos interessantes para os oficineiros iniciarem seus trabalhos. Agora é mão na massa! Amanhã nem chegamos a nos reunir em ambiente fechado, a cara é a rua mesmo! Mando mais notícias em breve!